sexta-feira, 2 de março de 2012

limites

como ajudar seu filho a ter sucesso na escola marcos meier.mp4

Ressignificar a educação a partir da identidade pedagógica do docente

Artigo: Ressignificar a educação a partir da identidade pedagógica do docente

Por Luis Alberto Riart Montaner
Doutor em Filosofia e Ciências da Educação
Ex-Ministro de Educação e Cultura do Paraguai (2009-2011)
*Tradução para o português: Fernanda Campagnucci (Vozes da Educação)
Originalmente publicado em Folio Politico las Américas (publicação de Praxis Publica) – acesse aqui.
Pensadores como Zygmunt Bauman, George Soros,  Jeremy Rifkin, Bernardo Toro e Ilya Prigogine, concordam com a afirmação de que a sociedade vive atualmente um processo de profunda reestruturação, o qual se traduz em mudanças de visão de mundo, em uma reengenharia de valores básicos, assim como em um repensar crítico das estruturas políticas, sociais, artísticas e das instituições-chave que as sustentam.
Na América Latina esse processo tem como antecedente recente as mudanças que se viveram durante a década dos anos 90, e que no âmbito dos Sistemas Educativos ficaram conhecidas como “Reformas Educativas”, as quais foram levadas adiante pelos Ministérios da Educação no marco de encontros paradoxais de importantes figuras da área da educação com os consultores dos organismos internacionais de financiamento. É assim que, enquanto, por um lado, personalidades como M. R. Torres, M. Gadotti, J.C. Tedesco, H. Maturana, E. Morín, H. Gardner, D. Ausubel, C. Coll y J. Brunnerpropunham uma mudança educativa sob um olhar crítico-participativo da prática educativa à luz das Ciências da Educação; por outro lado, os bancos multilaterais enviavam suas “missões técnicas” oferencendo linhas de crédito junto com “infalíveis entalatados e receituários educativos” feitos para a realidade dos chamados Tigres Asiáticos.
Esse período da história da educação regional, hoje estudado como o tempo em que se instalou a crença de que “reformar a educação de um país” é introduzir modificações cosmetológicas em conteúdos curriculares, nos sistemas de avaliação ou na distribuição dos anos de estudo; é fazer melhorias formais ou promulgar novas disposições legais. Os anos 90 são os anos em que se tornou moda a moda pedagógica (“vamos ver o que de novo se está fazendo nos países avançados e façamos um rápido copia-e-cola”), ou o falar constantemente da “inovação” como uma grande vedette, saltando de uma novidade a outra sem encerrar os processos ou avaliá-los cientificamente, para imediatamente informar os resultados à sociedade e fazer os ajustes necessários.
Muito do que se fez nos últimos 25 anos era necessário ser feito, mas hoje se tenta ir mais além de uma reforma entendida como ajustes paliativos do sistema. Na atualidade se quer gerar políticas participativas de ressignificação da educação pública, impactanto existencialmente nas vivências formativas que acontecem nas comunidades escolares. Assim, ressignificar implica – por exemplo – instalar uma nova prática docente que seja consciente e pertinente, a partir de uma pedagogia latino-americana ampla que traduza o enfoque de direito à educação em uma formação do docente como profissional e membro de uma comunidade, facilitando aos/às professores/as as ferramentas pedagógicas para que – juntamente com os governos e a sociedade civil – transformem a escola pública em um espaço comunitário de aprendizagem subjetivo e social, onde se ensine e se aprenda, tanto a ser pessoa como a ser cidadão; tanto a valorizar a tradição como a empreender novos caminhos de sustentabilidade econômica e política, sem perder de vista o contexto e a práxis. Nada disso impede o diálogo com as correntes de pensamento mais atuais, com as novas descobertas ou participar eficientemente de um mundo globalizado. Desde já, sempre que se mantenha um profundo sentido de identidade latino-americana e de co-responsabilidade com o compromisso histórico de colaborar para a superação das brechas de desigualdade socioeconômica que afetam o continente há centenas de anos.
Essas duas primeiras décadas do século XXI teriam que ser recordadas como o tempo em que a América Latina contruiu uma proposta educativa libertadora a partir do fortalecimento da identidade pedagógica de seus docentes, e a partir de um salto qualitativo de suas relações de ensino-aprendizagem no dia a dia da escola; quer dizer, uma época em que realmente a qualidade chegue à sala de aula e seja  sentida como qualidade de vida.